Stress térmico em ovinos – combata os efeitos negativos do Verão

2021-07-03

Existem ferramentas nutricionais e de gestão que nos ajudam a reduzir os efeitos negativos do stress térmico na produção de leite e que também podem melhorar a função imunitária dos ovinos e, consequentemente, a saúde do úbere.  

Por: Giovana González - Técnica Veterinária da Alltech Espanha publicado originalmente na revista “Tierras Ovino

Um dos fatores a ter em conta nas explorações leiteiras de ovinos do nosso país é a alteração da produção e da qualidade do leite nos meses quentes.  O stress  térmico é o conjunto de alterações fisiológicas desencadeadas  em  animais sujeitos a altas temperaturas que excederam a sua capacidade de dissipar o calor.  Embora os ovinos sejam uma das espécies pecuárias  mais resistentes ao calor, a  experiência e os ensaios de campo demonstraram  que a exposição dos ovinos a altas temperaturas tem um efeito prejudicial no desempenho produtivo, nas características nutricionais e nas propriedades tecnológicas do leite.   Além disso,   as raças de elevada produção leiteira são mais sensíveis ao stress térmico devido ao seu metabolismo elevado.

As consequências do stress térmico nos ovinos têm impacto económico devido à redução da produção de leite e à diminuição acentuada do teor de gordura e de proteína no leite.   Existem ferramentas nutricionais e de gestão que nos ajudam a reduzir os efeitos negativos do stress térmico na produção de leite e que também podem melhorar a função imunitárias dos ovinos e, consequentemente, a saúde do úbere.

Fornecer alimentos ao final da tarde e adaptar as instalações com uma boa ventilação são estratégias úteis.    A utilização de aditivos como as leveduras vivas, a ureia de libertação lenta e o selénio orgânico de elevada biodisponibilidade permitiu  alcançar produções  que há anos não eram habituais nos meses de Verão em explorações de ovinos com elevada produção leiteira.

Conforto térmico e formas de eliminar o calor

Os fatores que influenciam  o conforto térmico dos animais  são a  temperatura,  a humidade relativa,   a velocidade do vento e a radiação solar direta. 

Foram realizados vários estudos em diferentes espécies para analisar o efeito combinado da temperatura e da humidade na produção de leite. Usou-se para cálculo o Índice Termohigrométrico  (ITH).

Na avaliação das consequências  do stress  térmico   é necessário ter em conta não só a intensidade    do  ITH, mas também a duração da exposição dos animais às ditas condições, se é pontual ou prolongada no tempo, o que ditará a maior ou menor gravidade dos seus efeitos.  

A diferença de temperatura entre o dia e   a noite influencia a frequência  com que os animais são submetidos  a stress térmico.   Em algumas regiões do nosso país as noites permitem  aos animais descansar, mas se as noites forem quentes  a severidade dos efeitos do stress térmico   aumenta, uma vez que a possibilidade de dissipar os efeitos do calor é menor.

 Para evitar as consequências da radiação direta do sol é aconselhável fornecer sombras aos animais. A questão é mais relevante no sistema de produção extensivo.   Nos sistemas intensivos, onde as ovelhas estão estabuladas, o mais importante é a a velocidade do ar e os sistemas de ventilação para evacuar a acumulação de gases e as altas temperaturas. Em instalações com reduzida ventilação, é aconselhável instalar ventoinhas verticais que movem o ar aumentando a sua velocidade de circulação.  

É essencial que os ovinos tenham acesso permanente a água, que deve ser fresca, limpa e em quantidade suficiente.  Tenha em mente que a ingestão de água no Verão aumenta 50%.  

Os animais têm quatro mecanismos para eliminar o calor corporal: evaporação,   condução,   convecção e radiação.   Cada um tem uma eficácia diferente dependendo da espécie.  

  • Evaporação: é a perda de energia que ocorre pela transformação da água líquida em vapor  de  água. Acontece quando os animais transpiram ou estão ofegantes. No caso da transpiração, a  água que se  forma na superfície do corpo, através da  evaporação, refresca a superfície do  corpo.  Nos  ovinos com lã este mecanismo é   ineficaz, sendo o aumento da taxa respiratória ou a respiração ofegante mais importantes.  Para que este sistema seja eficaz deve  haver uma diferença de temperatura entre o ambiente e o animal. A evaporação  não é um mecanismo eficaz quando a humidade relativa do ar é elevada, uma vez que não facilita a transmissão da humidade corporal para o ambiente.
  • Condução: consiste   na transmissão de calor para um  meio físico em contacto com o animal(chão,   paredes). Este mecanismo é importante para a temperatura da cama, pelo que é vital trocar frequentemente a cama nos meses quentes para reduzir a fermentação de matéria orgânica no estábulo.    
  • Convecção: este sistema é relevante nos estábulos onde há ventiladores que movem o ar, uma vez que a convecção é  a perda de calor pela transmissão deste para partículas que estão em movimento e que rodeiam o animal.
  • Radiação: remoção do calor através de raios infravermelhos para o ambiente.

Resposta fisiológica dos ovinos ao stress térmico

Quando as ovelhas não são capazes  de dissipar o calor pelos mecanismos acima descritos, a temperatura rectal, a frequência cardíaca e a frequência respiratória aumentam. Perante esta situação, as ovelhas tentam produzir menos calor, movem-se menos e diminuem a ingestão diária de alimentos.   Aumenta a vasodilatação periférica e a passagem dos alimentos através do trato intestinal é retardada.  Consequentemente, diminui a produção de leite, bem como o seu teor em gordura e proteína.   

A diminuição da produção de leite não se explica exclusivamente pela diminuição da ingestão, também pode ocorrer devido à síndrome do "intestino poroso".  Devido à irrigação da pele pelo sangue, para promover a dissipação de calor, a circulação sanguínea no sistema digestivo é reduzida.  Isto causa anoxia e hipofuncionalidade a nível intestinal, que afeta a união entre enterócitos (células  do intestino), aumentando  a permeabilidade intestinal.  Esta falta de união e o aumento da permeabilidade do  epitélio intestinal permite a entrada de restos bacterianos e outras partículas do  lúmen intestinal no  corpo, que causam uma reação inflamatória  do intestino. Esta ativação  do sistema imunitário consome grande quantidade de energia no organismo das  ovelhas,  que ficam com menos energias disponível para a produção  de  leite.  Este stress fisiológico não só aumenta o gasto energético, como também aumenta a necessidade de nutrientes específicos, como vitaminas e microminerais, nomeadamente, o zinco e o selénio.     

Esta situação de desgaste imunológico também   se reflete na  saúde do úbere das ovelhas, mais suscetível à presença de germes, podendo levar ao aumento da contagem de células somáticas no leite e a maior incidência de mastites.    Além    de afetar a  saúde geral dos ovinos,  o stress térmico também tem impacto na fertilidade.  As ovelhas  com maior produção de leite são mais afetadas porque geram  mais calor. O aumento da   necessidade energéticas acima mencionada, a par com a diminuição da ingestão, pode colocar os ovinos num saldo energético negativo, com a correspondente diminuição da fertilidade durante as cobrições nos meses quentes,  e um possível aumento de reabsorções  embrionárias no primeiro mês e a meio de gestação.    

Também foi descrito que as ovelhas  que sofrem de  stress térmico no fim da gestação parem borregos com menor peso.

A digestão é   um dos processos orgânicos da ovelha que geras mais calor.  Uma boa estratégia para resolver esta situação é fornecer alimentos aos animais ao final da tarde, evitando assim a digestão nas horas mais quentes  do dia.  A temperatura fria da noite permite dissipar o calor produzido pela digestão e aumentar o fornecimento de sangue ao sistema digestivo. Desta forma, as ovelhas  não terão a sobrecarga calórica causada pelos alimentos durante as horas  mais quentes do dia, o que facilitará a eliminação do calor produzido pelo seu metabolismo.

O tipo de  dieta dos animais pode potenciar os efeitos adversos  do stress térmico.  Dietas altamente concentradas podem aumentar os efeitos severos do stress térmico.   Devido à menor  circulação sanguínea no sistema digestivo, a absorção de  ácidos gordos  voláteis diminui,  o que, a par da maior fermentabilidade da dieta (maior produção de ácidos gordos  voláteis  -AGV-), faz com que estes se acumulem no rúmen, dando origem ao aparecimento da acidose.   O aumento da temperatura do rúmen  (devido aos efeitos ambientais) e a redução do pH causam a morte e a lise das bactérias ruminais  que, graças à maior permeabilidade do epitélio digestivo,  podem ser  absorvidas  e contribuir novamente para uma maior inflamação do sistema  digestivo. Por conseguinte, aumentar a concentração da ração para compensar a   diminuição da ingestão e o aumento das necessidades energéticas dos ovinos devido ao stress térmico pode não ser uma boa solução.   Neste sentido, a única coisa que conseguiríamos  seria  aumentar a concentração de AGV no rúmen e reduzir  ainda mais o pH, aumentando o risco de acidose.   Sob condições de pH ácido, as bactérias presentes no rúmen param de se multiplicar e o crescimento da flora microbiana cessa,  o que leva à redução da digestibilidade dos nutrientes, não cobrindo a necessidade energéticas das ovelhas em ordenha.   

Estratégias de prevenção do stress térmico em ovinos

Além da qualidade das instalações e da gestão dos alimentos, existem  ferramentas nutricionais que ajudam a prevenir a diminuição da produção de leite e a fortalecer o sistema imunitário dos ovinos nos   meses quentes   de Verão.

O principal objetivo da gestão nutricional durante  o stress térmico é  manter o rúmen saudável, bem como fornecer a quantidade ideal de nutrientes para limitar o desequilíbrio energético.  A estratégia passa por fornecer alimentos altamente digeríveis e uma ração equilibrada, mantendo simultaneamente uma proporção segura de forragem- concentrado.  

À medida que a ingestão diminui é crucial que as ovelhas continuem a receber todos os nutrientes necessários dos  alimentos que ingerem. Para isso, é necessário  aumentar a  densidade nutricional dos  alimentos. A adição de amido à ração pode ser prejudicial em termos de acidose, como acima referido. A gordura  é geralmente útil para aumentar o rácio de energia da ração, mas a quantidade que pode ser usada sem comprometer a ingestão é limitada.  Neste período de maior calor, deve   utilizar apenas forragem de alta qualidade que favoreça a ingestão de energia sem  afetar negativamente a ingestão.

Como já referido, nos meses quentes a temperatura do rúmen também aumenta, afetando o crescimento da flora microbiana. As bactérias do rúmen responsáveis pela digestão da fibra alimentam-se do azoto de origem não-proteica, a contribuição da ureia de libertação lenta favorecerá o crescimento dos grupos de bactérias responsáveis pela digestão da fibra (fibroglitica), o que nos ajudará a manter o equilíbrio entre os diferentes grupos de bactérias que compõem a flora do rúmen, bem como melhorar o uso da porção fibrosa da ração. O uso de ingredientes proteicos que permitam reduzir a proteína bruta em geral, mantendo ou aumentando a produção de proteína microbiana, pode ser uma boa estratégia para ajudar o animal a lidar com o stress térmico. O excesso de proteína na dieta implica um grande esforço metabólico para eliminá-la, o que em períodos de stress térmico e baixa disponibilidade de energia pode ser mais um fator a contribuir para a diminuição da produção de leite. 

Uma das estratégias nutricionais é a suplementação com Optisync®, que permite aumentar a atividade dos microrganismos do rúmen, representando uma maior oferta de proteínas microbianas, bem como uma digestibilidade ótima da fibra na dieta. Isto contribui para aumentar a população de bactérias responsáveis pela digestão da fibra, sem necessidade de aumentar a proteína na dieta (podendo-se mesmo diminuí-la). A suplementação da ração com Optisync® permite uma maior utilização da forragem, reduzindo o risco de acidose.  

As leveduras vivas, como a YEA-SACC®, revelaram ter efeitos benéficos na ingestão, bem como na produção de leite durante períodos de stress térmico.  Melhoram a digestibilidade da dieta, removendo oxigénio tóxico para os microrganismos do rúmen e produzindo compostos que promovem o crescimento microbiano. Promovem a digestão e a proliferação de bactérias que consomem lactatos, estabilizando o pH do rúmen.

Todos estes pontos promovem a função ideal do rúmen e reduzem o risco de acidose, permitindo uma produção de leite mais eficiente, e não têm efeitos negativos.

A incorporação na dieta de microminerais,  como o selénio ou o zinco em forma orgânica de maior biodisponibilidade, tais como SELPLEX® ou BIOPLEX®, fortalece o sistema imunitário e o úbere.   

Em conclusão, com as alterações climáticas é provável que o stress térmico se torne um problema crescente. A redução da ingestão de matérias secas, a redução da produção de leite e da fertilidade são alguns dos principais problemas associados ao stress térmico.  No entanto, existem estratégias ambientais e nutricionais para combater estes efeitos. A inclusão de leveduras vivas e ureia de libertação lenta na dieta ajuda a estabilizar o pH e promove a função ótima do rúmen, resultando num melhor aproveitamento dos nutrientes pelos ovinos com menor risco de desequilíbrio energético durante os períodos de stress térmico.

 

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