Reconhecer os sinais de alerta de micotoxinas em suínos
Por: Drª. Radka Borutova, European Technical Support Manager, Alltech Mycotoxin Management
Pode ouvir aqui o episódio do podcast “Mycotoxin Matters” com a Drª. Radka Borutova, apresentado por Nick Adams.
Porque é que as micotoxinas são um problema na produção de suínos?
Produzidos por fungos filamentosos (bolores) que estão presentes na natureza, em condições específicas, as micotoxinas reproduzem-se e podem contaminar quase todos os alimentos que fornecemos aos suínos. Cada micotoxina pode ser produzida por várias espécies de bolores, não é exclusiva de um bolor. Também há espécies de bolores que produzem vários tipos de micotoxinas. O bem-estar dos suínos pode ser afetado por uma única micotoxina em grandes quantidades, mas em geral a presença de várias micotoxinas em menores quantidades tem efeitos mais graves nos animais.
Em geral, são regulamentados os níveis máximos de cada micotoxina, mas não se consideram os efeitos cumulativos de múltiplas micotoxinas presentes na alimentação animal. Este desafio multimicotoxina tem sido constatado ao longo dos anos nos testes de micotoxinas realizados nos laboratórios de análise de micotoxinas Alltech 37+®. No European Summer Harvest Survey 2020 da Alltech, o número médio de micotoxinas em amostras de milho foi de 6,4.
Que impacto têm as micotoxinas nos suínos?
Os suínos são particularmente suscetíveis aos perigos das micotoxinas. A ingestão de alimentos contaminados pode prejudicar a integridade celular e os tecidos dos suínos, gerando desequilíbrio no seu sistema fisiológicos. Os órgãos passam a funcionar mal, o desempenho dos suínos é afetado, a sua imunidade é comprometida, afetando o estado geral de saúde dos animais. A zearalenona é uma toxina estrogénica (isto é, imita a ação da hormona) e, portanto, afeta negativamente a função reprodutora. A maioria das micotoxinas pode causar toxicose aguda nos suínos, mas é mais frequente a toxicose crónica, que representa maiores prejuízos para os suinicultores e é mais difícil de diagnosticar.
Como gerir as micotoxinas na produção de suínos?
Devido à natureza invisível destes compostos tóxicos, mesmo sem sinais de bolor pode haver uma ameaça de contaminação, tornando a deteção mais complexa. A aplicação de uma estratégia preventiva adequada e aplicada de forma consistente ajuda a reduzir os efeitos adversos. Se detetar o problema numa fase precoce pode tomar medidas para mitigar o impacto das micotoxinas na saúde e no desempenho dos suínos.
Eis os 10 sinais de alerta que todos os produtores de suínos devem ter em atenção para detetar problemas de micotoxinas:
1.Bolores visíveis em alimentos para suínos
Os bolores podem crescer antes ou depois da colheita, durante o armazenamento, e contaminar quase todos os ingredientes usados na alimentação dos suínos. Os produtores devem monitorizar a potencial contaminação na produção, transporte e distribuição dos alimentos. Por vezes, a infeção do bolor é visível, permitindo identificar o risco potencial e adotar medidas preventivas. No entanto, as micotoxinas não são visíveis a olho nu e requerem técnicas de deteção especializadas
2. Medição e registo de dados
Muitas vezes só detetamos os sinais de micotoxinas nos animais quando já estão a causar perdas de desempenho. O registo detalhado e preciso de dados baseado na medição constitui uma boa base para analisar corretamente a situação e pôr em prática uma estratégia de prevenção eficaz. Mesmo uma ligeira alteração na eficiência dos suínos em converter alimento em peso pode causar graves perdas económicas e é apenas um exemplo dos parâmetros de desempenho dos animais a que deve estar atento para detetar a presença de micotoxinas.
3. Redução da ingestão de alimentos
Por vezes, a simples presença de bolores pode causar alterações no sabor e/ou cheiro dos alimentos, mas em muitos outros casos os seus subprodutos tóxicos afetam diretamente o apetite dos suínos. Em situações extremas, os animais podem mesmo recursar totalmente a ração. O mais frequente é ocorrer uma ligeira quebra na ingestão diária da ração, levando à redução do desempenho dos animais, sobretudo no ganho médio diário de peso.
4. Fezes moles
Caso note o aumento de sinais de distúrbios intestinais num grupo mais alargado de suínos ou consistência irregular das fezes — passado de uma textura ligeiramente mais mole para uma textura aguada com sangue ou pedaços de ração inteiros — pode ser um indicador da presença de várias micotoxinas. A gravidade de alguns agentes patogénicos (por exemplo, E. coli, Salmonella, Lawsonia e Serpulina) também pode aumentar.
5. Impacto na reprodução
A alimentação contaminada com várias micotoxinas pode levar a quedas inesperadas no desempenho reprodutivo. As porcas reprodutoras e os javalis podem ser afetados e os leitões do sexo feminino também podem apresentar sinais de exposição intrauterina à micotoxina, tais como vulva inchada ou úbere necrótico. Os javalis podem apresentar libido reduzida e diminuição da quantidade de espermatozoides. Podem também ocorrer cios irregulares nas porcas ou um período de desmame mais longo do que o normal, atrasando o estro. Outros sintomas de contaminação por micotoxinas são o aumento de nados-mortos, ninhadas com menos leitões e pouca vitalidade dos recém-nascidos. A redução da subida de leite nas porcas pode causar menor taxa de crescimento dos leitões.
6. Estado geral da saúde dos suínos
Este é um dos impactos da ingestão de micotoxinas mais difíceis de determinar. No entanto, o aumento do abate e a mortalidade mais elevada podem indicar-nos potenciais problemas de micotoxinas nos efetivos suínos. A menor eficácia dos programas de vacinação, o aumento dos surtos de infeção devido a agentes patogénicos ou simplesmente os custos acrescidos com medicamentos podem indicar problemas de toxicose.
7. Aumento da incidência de prolapsos
O aumento do prolapso retal e/ou urogenital pode indicar problemas de micotoxinas. Embora possa haver diferentes causas para estes sintomas, é um dos sinais clínicos mais frequentes nos suínos que ingerem micotoxinas. Um efeito direto são as alterações nos ligamentos dos órgãos e entre os sintomas indiretos mais frequentes está a diarreia provocada por pressão abdominal.
8. Comportamento alterado — vómitos
Alterações de comportamento, como a letargia, grande agitação, mastigação excessiva, espumar da boca ou vómitos, em grandes grupos de animais podem indicar contaminação por micotoxinas.
9. Aumento da sensibilidade da pele
O aumento da sensibilidade da pele, levando a lesões cutâneas nas extremidades das orelhas ou nas caudas, podem ter várias causas. A contaminação por micotoxinas não deve ser excluída como causa potencial.
10. Redução dos parâmetros de desempenho dos suínos
A investigação tem demonstrado impactos negativos das micotoxinas no desempenho dos animais. No entanto, os impactos podem nem sempre ser evidentes nos efetivos suínos. A perda de homogeneidade em grupos da mesma idade, ligeiras alterações na ingestão diária de alimentos e nos parâmetros de crescimento ou redução da eficiência alimentar podem indicar problemas de micotoxinas e levar a perdas económicas significativas. Alterações súbitas mais severas, como o aumento da mortalidade, podem indicar contaminação aguda e devem ser investigadas imediatamente.
*Artigo publicado originalmente na revista digital “All About Feed” , vol.24 -Nº.4, 2021. Clique aqui para ver.