O impacto positivo dos bovinos de carne no ambiente

2022-09-12

Por: Cece Blythe

Sustentabilidade – provavelmente tem ouvido muito esta palavra ultimamente. É um tema “quente” em todo o mundo e os bovinos de carne estão no centro do debate. Como afirma a Dra. Jude Capper, "todos nós no setor, independentemente do nosso papel, temos de pensar e debater sobre a sustentabilidade para avançar, porque este tema nunca vai desaparecer”.

Na  Conferência Alltech ONE (ONE), a Dra. Jude Capper, que trabalha na área da sustentabilidade dos ruminantes há cerca de 15 anos, partilhou algumas ideias que nos fazem refletir sobre o que deve ser considerado para evoluir no domínio da sustentabilidade. Foquemo-nos em quatro pontos-chave abordados pela Drª Capper na sua palestra.

1. Precisamos de definir "sustentabilidade"

"Há quase tantas definições desta palavra como há pessoas no universo", afirmou a Drª Capper. "Mas do ponto de vista científico, e particularmente quando estamos a falar de sistemas alimentares e agrícolas, a sustentabilidade é geralmente considerada o equilíbrio entre três vertentes: a responsabilidade ambiental, a viabilidade económica e a aceitação social. E a longo prazo todas essas vertentes têm de estar equilibradas".

Neste momento, porém, é claro que o mundo está focado em: emissões de gases com efeito de estufa, alterações climáticas e neutralidade carbónica. Inúmeras empresas em todo o mundo anunciam algum grau de compromisso com a neutralidade carbónica. Segundo a Drª Capper, isto levou a que tenham sido criados gráficos e métricas para tentar medir a sustentabilidade, mas que não representam de forma precisa o setor mundial dos bovinos de carne e os seus diversos sistemas de produção a nível mundial.

"Vemos uma grande variabilidade", disse a Drª Capper. "Não podemos fazer médias globais, ou compromissos globais ou globalmente dizer que vamos implementar a prática 'x', o que quer que seja, porque há tanta variabilidade nos sistemas produtivos".

Para além deste ponto, a consultora citou alguns dados de Gerber et al. em 2013, mostrando uma avaliação global do ciclo de vida dos sistemas de produção de bovinos de carne. O gráfico de barras é dividido por região e representa as emissões de gases com efeito de estufa/pegada de carbono em termos de carbono por quilo de peso morto. A verdadeira representatividade é difícil - quando olhamos para a média mundial em comparação com cada região, confirmamos a ideia de que não podemos esperar que os mesmos sistemas e práticas funcionem globalmente.

"Podemos ter objetivos muito claros, mas a forma como alcançamos esses objetivos vai sempre variar de acordo com o sistema, a região, o mercado, a cultura e as oportunidades que existem em cada contexto", explicou a Drª Capper. "Devemos sempre ver, se o fizermos de forma cuidadosamente ponderada e bem pensada, a correlação positiva entre melhorar a eficiência, ter menor pegada de carbono, menor utilização de recursos e a um custo mais baixo também. Então, há uma correlação positiva entre a economia e o ambiente.

"Mas o que temos sempre de ter em mente é que só porque é benéfico para o ambiente ou a um custo económico mais baixo, nem sempre significa que é socialmente aceitável."

2. Os produtores de carne de bovino estão a utilizar práticas sustentáveis 

A Drª Capper prosseguiu referindo formas de melhorar a produtividade dos nossos sistemas e afirmou que a maioria dos produtores já está a prosseguir ativamente esses objetivos. No entanto, reiterou que não existe uma "receita única”.

No que diz respeito à eficiência dos sistemas produtivos, a Drª Capper mencionou alguns números, colocando esta questão em perspetiva. Segundo os seus cálculos, uma vaca reprodutora numa exploração de produção de vitelos precisa, anualmente, de pouco menos de 4.000 quilogramas de alimento, ingere pouco mais de 20.000 litros de água e emite quase 2.500 quilos de dióxido de carbono. Com isto em mente, seria facilmente defensável a redução do encabeçamento, assumindo os benefícios inerentes.

No entanto, como afirma a Drª Capper, temos de considerar todos os aspetos positivos que obtemos em termos de biodiversidade, manutenção paisagística, qualidade dos solos e utilização de terras onde simplesmente não podemos cultivar mais nada (além dos bovinos) para produzir alimentos nutritivos e de alta qualidade. Os impactos positivos dos bovinos no ambiente são difíceis de quantificar atualmente, mas eles existem. E, ainda assim, há formas de os produtores de bovinos de carne poderem melhorar a sustentabilidade (converter terras aráveis em terras de pastoreio, melhoramento genético dos animais, etc.).

3. Os bovinos podem contribuir para o arrefecimento global

A Drª Capper partilhou alguns dados da Universidade de Oxford que esclarecem algumas das diferenças entre o metano e outros gases com efeito de estufa.

"No passado, assumimos que, tal como com o dióxido de carbono e o óxido nitroso, qualquer tipo de metano que emitimos para a atmosfera apenas se acumula e se acumula ao longo do tempo", explicou Capper. "Usávamos uma métrica chamada 'Potencial de Aquecimento Global', ou GWP 100".

O GWP 100 levou-nos a estandardizar os efeitos dos gases com efeito de estufa. No entanto, não considerou as diferenças entre o metano (um gás com efeito de estufa de curta duração) e o dióxido de carbono (um gás com efeito de estufa de longa duração). GWP*, a nova métrica, é uma forma otimizada de medir o efeito individual de cada gás com efeito de estufa no aquecimento global. Isto é importante porque as emissões de metano provenientes da produção de bovinos de carne são recicladas como parte do ciclo biogénico do carbono.  Simplificando: o ciclo biogénico do carbono é quando as plantas captam e armazenam dióxido de carbono que é consumido pelos bovinos e libertado na forma de metano. Depois, após uma dúzia de anos, o metano é convertido novamente em dióxido de carbono, e o ciclo continua. Como as plantas precisam de dióxido de carbono e os bovinos podem consumir plantas como as pastagens, os bovinos são vitais neste ciclo. E é até possível que os bovinos possam contribuir para o arrefecimento global do planeta através deste ciclo. 

"O metano só pode contribuir para o arrefecimento global se as emissões de metano realmente diminuirem ao longo do tempo", afirmou a Drª Capper. "E só têm de diminuir um pouco, mas têm de continuar a diminuir e não a aumentar ano após ano (...) Isto significa que se atuarmos para melhorar a produtividade, a fertilidade, a gestão das pastagens, todas aquelas coisas de que falei anteriormente, de modo a produzirmos a mesma quantidade de carne de vaca, por exemplo, com [digamos menos 1% de animais], então poderíamos ter um efeito realmente positivo em termos de arrefecimento global". Mesmo com esta abordagem é importante ter em conta o papel vital dos bovinos de carne no equilíbrio do nosso ecossistema e na utilização de terras que de outra forma seriam improdutivas.

4. Precisamos de uma ferramenta standard para medir a pegada de carbono

Um desafio para o nosso setor é a criação de uma ferramenta standard para medir a pegada de carbono. Idealmente, uma que possa ser utilizada transversalmente em todas as regiões do mundo e nos diferentes sistemas de produção. Já existem ferramentas, mas precisamos de uma que seja estandardizada e mais abrangente. Se conseguirmos fazê-lo enquanto setor, podemos contribuir com confiança não só para o arrefecimento global, mas também dar aos produtores mais oportunidades de comercializar os seus bovinos, uma vez que os consumidores quando vão comprar carne exigem provas sustentabilidade fundamentadas em dados.

Na sua apresentação a Drª Capper pretendeu demonstrar que o setor dos bovinos de carne tem do seu lado argumentos credíveis em termos de sustentabilidade que demonstram o seu impacto positivo no ambiente, agora e no futuro.

 

Alltech Portugal

Facebook: AlltechEurope

Web: Alltech.com/Portugal

Alltech Portugal

Parque Empresarial Primóvel, Estrada Terras da Lagoa, Edifício A3 – 2º C

Rio de Mouro |  2635-595 Rio de Mouro 

Tel: (+351) 219605510   

Email: infoportugal@alltech.com

 

background image