O ciclo de vida do metano e a redução da pegada de carbono na pecuária
Muito do que se fala hoje em dia sobre o impacto ambiental da agricultura está centrado nas emissões de metano dos ruminantes, na medida em que representam a maior fonte de emissões nas explorações agropecuárias. No entanto, considerando que as emissões totais (de gases com efeito de estufa) da agricultura são geradas durante e após o processo produtivo, é necessário ter uma perspetiva global com vista a conseguirmos reduzir a nossa pegada de carbono.
A natureza do problema é bem maior, não podemos olhar isoladamente para cada gás com efeito de estufa, e o setor precisa de reconhecer este facto. Dada a natureza dinâmica dos sistemas de produção de gado, focarmo-nos apenas na redução das emissões numa área específica do sistema produtivo – como por exemplo a aplicação de adubos – pode indiretamente gerar um aumento de emissões noutra parte do sistema.
As estratégias para mitigar as emissões devem levar em conta o equilíbrio das emissões ao longo de todo o sistema produtivo. A análise do ciclo de vida é uma abordagem que vai nesse sentido – ao analisar todos os inputs, processos e outputs de um sistema, desde a obtenção das matérias-primas até aos produtos acabados que saem da exploração agropecuária, conseguimos ter uma perspetiva real da pegada ambiental da exploração.
A análise do ciclo de vida tem tudo a ver com a eficiência do sistema e melhorar essa eficiência também significa mais dinheiro no bolso do agricultor. A fileira agropecuária não tem sabido passar a mensagem de que reduzir as emissões não é um mero exercício de retórica, mas antes uma oportunidade para avaliar a eficiência das explorações. Reduzir a pegada ambiental pode parecer um fardo pesado para alguns agricultores, mas há inúmeros ganhos que se conseguem com este processo. Dito de uma forma simples, as emissões são um indicador de desperdício, e ao reduzir a sua pegada ambiental a exploração tem ganhos diretos na melhoria da sua eficiência. Nós na Alltech E-CO2 já avaliamos mais de 9.000 explorações agropecuárias e concluímos que as mais eficientes do ponto de vista ambiental são também as mais rentáveis.
Uma vez que o rúmen é um elemento central no ciclo de vida dos ruminantes, promover a eficiência ruminal através de programas de nutrição e da seleção dos seus componentes é vital. Suplementar a ração com aditivos modificadores da fermentação ruminal pode reduzir diretamente as emissões de metano. Este aditivos alteram a bioquímica do rúmen e/ou inibem seletivamente os micróbios produtores de metano presentes no rúmen. No entanto, alguns produtos que alegadamente reduzem as emissões de metano entérico podem ter um impacto negativo nas bactérias do rúmen e, em última análise, no desempenho dos ruminantes. Ainda há muitas dúvidas sobre a sua eficácia para que se possam tornar produtos de uso comum.
Os programas de redução das emissões e da pegada ambiental das explorações agropecuárias através da nutrição e da alimentação devem focar-se em abordagens fiáveis e com provas dadas, usando alimentos que sejam digeríveis e que maximizem a produção e a eficiência dos ruminantes.
O Yea-Sacc da Alltech é uma cultura de leveduras que permite aumentar a produtividade dos bovinos de leite e dos bovinos de carne e, simultaneamente, reduzir a intensidade das emissões. O Yea-Sacc estimula a atividade das bactérias do rúmen, responsáveis pela digestão da fibra e do ácido láctico, otimizando a digestão da fibra e a utilização dos nutrientes, com menor desperdício potencial de energia para o ambiente.
Apoiado por quase quatro décadas de investigação e com resultados comprovados, o Yea-Sacc tem ajudado os produtores a lidar com as emissões muito antes de esta questão ser encarada como um problema global. Os programas alimentares também devem dar prioridade a ingredientes sustentáveis. Por exemplo, a soja é um ingrediente com elevada pegada de carbono – em cada 1% de redução do teor de soja na ração, reduz-se em 1,5% a pegada de carbono.
O Optigen da Alltech é uma fonte de azoto não-protéica que pode reduzir em 17% o potencial de emissões de gases com efeito de estufa da dieta animal. Uma tonelada de Optigen pode substituir oito toneladas de soja e também permite a utilização de maior quantidade de forragens produzidas na exploração- que têm menor pegada de carbono –na alimentação dos animais. Em última análise, um sistema sustentável tem os seus alicerces numa boa gestão da forragem.
Numa apresentação realizada no Simpósio Técnico Europeu da Alltech, na Irlanda, em 2019, Carolyn Opio da FAO sublinhou que os ruminantes têm uma baixa eficiência no uso do azoto; entre 70% a 95% do azoto contido na ração é excretado nas fezes e na urina. Neste sentido, aumentar a eficiência de retenção do azoto no rúmen, o que pode ser conseguido com o Optigen, conduz a um menor desperdício de azoto e a vantagens acrescidas para os produtores e o ambiente.
Já foi repetidamente demonstrado que os animais mais produtivos são mais eficientes e têm uma menor pegada de carbono do que outros menos produtivos no mesmo sistema de maneio. Aumentar a produtividade animal através da gestão da nutrição e da genética diminui as necessidades energéticas de manutenção, aumentando desta forma a eficiência da ração.
Esta mudança terá repercussões em todo o ciclo de vida e na cadeia de abastecimento, reduzindo a pegada de carbono por unidade de leite. Por exemplo, um aumento de 100 kg na produção de leite por vaca em cada lactação reduz as emissões em 3% a 7%.
Alguns estudos também demostraram que vacas com genética de topo em sistemas alimentares à base de forragens podem ter emissões até 9% mais baixas do que a média dos efetivos leiteiros britânicos. A redução da idade ao primeiro parto de 27 para 24 meses também poderá reduzir as emissões em 3%.
Além da componente animal, há muitas outras oportunidades para melhorar a eficiência dos sistemas produtivos. Algumas soluções práticas incluem a melhoria da gestão do estrume, gestão de forragens, digestão anaeróbica, aplicação de precisão do chorume e redução da compra de azoto. A adoção de uma estratégia que considere todo o sistema produtivo levará a ganhos cumulativos em múltiplas áreas e a uma maior redução da pegada de carbono. Com benefícios não só para o produtor, como também para todo o ciclo de vida e para a cadeia de abastecimento.
Para reduzir com sucesso o impacto ambiental da agricultura, o setor agropecuário deve ver a floresta e não a árvore. Ao invés de apostar em melhorar numa única área (ou reduzir as emissões de um só gás) a 100%, nós – todos os interessados na cadeia de abastecimento – devemos perguntar-nos, podemos melhor 100 coisas em 1%? Os produtores já fizeram progressos significativos na redução da pegada de carbono sem comprometer a produtividade, e devemos continuar a ajudá-los para irem mais além. Isto não deve ser visto como um fardo pelo produtor ou pela indústria, mas antes como uma oportunidade para melhorar os nossos sistemas produtivos.
Em conclusão, devemos ter uma mensagem comum a todo o setor: um sistema de produção eficiente é o sistema de produção mais sustentável e mais rentável.
Por: Dr. Stephen Ross, Especialista Sénior em Sustentabilidade, Alltech E-CO2, U.K.
Artigo originalmente escrito em inglês e publicado no website FeedNavigator.com