Conselhos para reduzir as micotoxinas nos silos
As boas práticas no campo, no processo de ensilagem e na gestão dos silos são fundamentais para reduzir a presença de micotoxinas, pois estes compostos podem provocar graves danos na saúde das vacas e do Homem. Xoán Rodríguez Diz, técnico de Alltech especialista em bovinos de leite, explica neste artigo as medidas que devemos adotar para reduzir a presença de micotoxinas nas forragens.
As micotoxinas são um dos grandes desafios do futuro para o setor dos bovinos de leite em todo o mundo. Tratam-se de compostos tóxicos produzidos por fungos que se desenvolvem nos silos de forragem e nos cereais, em condições de humidade e na presença de oxigénio, e constituem um risco para a saúde dos animais, e mais importante, para a saúde humana.
Porque é tão importante reduzir as micotoxinas nos silos?
Dos inúmeros fungos que produzem micotoxinas – são conhecidas mais de 500 – os principais são o Fusarium, o Penicillum e o Aspergillus, sendo este último o que produz a temida Aflatoxina B1 no leite, com efeitos cancerígenos nas pessoas.
Frequente no Sul de Espanha, esta micotoxina é conhecida por ter provocado uma crise no consumo de leite no ano 2013, tendo a contaminação tido origem em lotes de milho contaminado importado da Sérvia. As alterações climáticas, especialmente devido às ondas de calor, fazem com que a sua presença seja cada vez mais frequente nas latitudes Norte, chegando também à Galiza e ao Norte de Portugal. Os silos de erva são os mais suscetíveis a esta micotoxina.
Neste momento é a única micotoxina regulada pela Comissão Europeia, com um limite de 5 partes por bilião (ppb) nas rações do gado; 20 ppb nas matérias-primas (cereais, concentrados, forragens, etc) e 0,05 ppb no leite. Em Portugal são colhidas anualmente amostras de géneros alimentícios para verificação do cumprimento dos teores máximos de aflatoxinas, no âmbito do plano de controlo oficial dos géneros alimentícios da ASAE.
A transmissão da Aflatoxina B1 ao leite começa entre 12-24 horas após a ingestão da ração pela vaca e pode ser eliminada até 4-5 dias desde a última ingestão.
Que efeitos têm as micotoxinas nas vacas?
Ainda que as vacas tenham capacidade de metabolizar uma percentagem de micotoxinas sem sofrer danos aparentes, «não há nenhum nível seguro, e o risco depende da sua concentração, do efeito combinado de várias micotoxinas e do tempo de exposição do animal», explica Xoán Rodríguez Diz. De qualquer modo, entre os principais efeitos que as forragens ou rações contaminadas com micotoxinas original nas vacas, o técnico da Alltech destaca o aumento do stresse, a redução dos nutrientes disponíveis para o animal -em parte já consumidos pelos fungos – e em geral uma diminuição das defesas do organismo do animal.
O consumo prologando de micotoxinas, em níveis baixos e durante longos períodos, leva por vezes a quadros sub-clínicos que se manifestam no baixo consumo de matéria seca, descida do peso do animal, má resposta às vacinas e inclusive problemas patológicos recorrentes e sem causa aparente.
O que fazer quando aparecem aflatoxinas no leite?
Xoán Rodríguez Diz afirma que uma vez detetada por controlo oficial a Aflatoxina B1 no leite, «não devemos esperar pela chegada dos resultados das análises para começar o tratamento, pois embora seja fácil a sua deteção no leite, não é tão fácil detetá-la na matéria-prima» e recomenda medidas para evitar a contaminação.
«Antes de atingir os limites máximos admitidos por lei é preciso aplicar absorventes de largo espectro, eliminar imediatamente os ingredientes suspeitos de terem provocado a contaminação, monitorizar a aflatoxina no leite até que volte a níveis normais e vigiar o caso até à adoção de medidas corretoras, como por exemplo, silos compactados e com condições de temperatura e humidade adequadas», sublinha.
Neste sentido, o técnico de Alltech insiste na necessidade de estabelecer e aplicar um protocolo de atuação quando os níveis de aflatoxina na exploração ou no leite superem os níveis de intervenção: 2 ppb para a ração, 4 ppb para as matérias-primas e 0,02 ppb para as amostras de leite.
«O objetivo é deter o mais cedo possível a transmissão da aflatoxina B1 ao leite e identificar a fonte de contaminação (cereais, concentrados, luzerna, palha ou silo de milho ou de erva), limitando-o ou eliminando-a da ração, e estabelecer medidas corretoras», explica.
Entre estas últimas, o técnico da Alltech defende a adição de sequestradores de micotoxinas na ração, que atuam no rúmen da vaca eliminando estes compostos tóxicos. A este respeito, considera que os sequestradores orgânicos, por comparação com os minerais, e por serem de mais largo espectro, têm maior capacidade de absorção e provocam menos efeitos secundários na vaca do que os minerais, especialmente o zinco. No caso do Mycosorb A´+, o sequestrador orgânico da Alltech, a dose recomendada é no mínimo de 100 gr/ vaca/dia (quando há deteção de AFM1 no leite) ou uma dose preventiva de 10 e 30 gr/vaca/dia (quando se detetam micotoxinas na ração).
Medidas preventivas para reduzir a presença de micotoxinas
Embora o risco zero de presença de micotoxinas não exista, Xoán Rodríguez Diz, defende que os criadores de gado devem seguir um programa de gestão integral de micotoxinas que deve começar no campo.
No campo
- Evitar o stresse da planta por: baixa fertilidade do solo, estragos causados por insetos, seca, excesso de humidade ou outras doenças.
- Evitar também o stress durante a colheita: colheitas tardias, ensilar milho demasiado seco ou o enchimento lento do silo.
- Nas parcelas semeadas com erva, uma altura de corte baixa incrementa o teor de cinzas (clostrídios e enterobactérias), e com isso o risco de micotoxinas. Uma solução de compromisso é cortar a erva a uma altura entre 6,5 e 7,5 cm, evitando assim também a parte menos digerível e menos nutritiva da erva.
No silo
Todos os fungos, e portanto as micotoxinas, precisam de cinco requisitos chave para crescer nos silos: alimento adequado (amido, proteína), humidade superior a 14%; temperatura superior a 15 graus, presença de oxigénio (mínimo 0,5%) e PH entre 4 e 8.
«Estas condições existem em muitas explorações leiteiras e precisam de ser corrigidas, começando por reduzir ao máximo a presença de oxigénio», recomenda Xoán Rodríguez Diz. Neste sentido, as recomendações são:
- Compactar entre 230 e 270 kg de matéria seca do silo de milho por metro cúbico. Dito de outro modo, a massa da forragem que entra na trincheira no período de uma hora deve ser no máximo de 3 ou 4 vezes o peso do trator. Exemplo: se usarmos um trator de 6.000 kg para compactar a forragem, o máximo que devemos compactar numa hora são 24.000 kg de matéria húmida.
- A camada de forragem que se estende para compactar não deve ter mais de 15 cm de altura.
- Evitar acumulações e espaços vazios.
- Evitar que a força exercida pela compressão se disperse para os lados. Neste sentido, são preferíveis os silos em trincheira aos silos térreos, nos quais a entrada de oxigénio pelas laterais ou pela parte superior é maior, devido à menor compactação.
- O topo dos silos não deve ser em cume, mas sim numa linha quase reta com ligeira elevação no meio. Caso contrário, entra mais oxigénio pelas laterais.
- Recomenda-se utilizar plástico nas paredes do silo para prevenir a deterioração da forragem. Neste sentido, o técnico da Alltech destaca que «o plástico Silostop é 10 vezes menos permeável ao oxigénio do que o plástico normal».
- Uma vez fechado o silo, e para a compressão estática, é preferível utilizar pranchas de borracha para tapar o silo. Está provado que os pneus dispersos são a opção menos aconselhável, pois exercem um peso de 20 a 25 kg/m2, em comparação com a cobertura total com pneus (150 a 200 kg/m2) ou com os sacos e mantas (100 kg/m2).
Gestão das frentes dos silos e da manjedoura
- Deve-se dimensionar a frente dos silos tendo em conta o número de animais e a ingesta dos animais, para que o consumo da frente do silo seja rápido e eficaz, evitando perdas por fermentação aeróbia no silo.
- Neste sentido, considera-se que uma velocidade de avanço adequada no silo são 15 cm/dia no Inverno e 20 cm/dia no Verão. Dividir um silo com uma parede pode ser uma boa alternativa para evitar frentes de abertura demasiado grandes e nas quais se avança lentamente, com a consequente perda de alimento.
- Recomenda-se a desensilagem com fresa e não com pá, já que esta última favorece a entrada de ar no silo. Observou-se num mesmo silo 30 graus de diferença de temperatura entre a parte desensilada com fresa e a parte desensilada com pá.
- Na parte superior do silo pode haver até 100 vezes mais fungos do que no centro do silo, devido a maior exposição ao oxigénio. Cobrir com plástico após cada desensilagem deve fazer parte do protocolo para reduzir a presença de micotoxinas.
- Deve-se evitar o aquecimento das manjedouras. Em geral a sua temperatura nunca deve estar a mais de 8 graus acima da temperatura ambiente. Deve-se seguir um protocolo de limpeza.
Artigo publicado na revista Campo Galego.