Produção de suínos sem óxido de zinco: como superar o desafio com sucesso

2021-12-30

A partir de junho de 2022, entrará em vigor na União Europeia (UE) legislação que proibe o uso de doses terapêuticas de óxido de zinco (ZnO) na alimentação animal para controlo da diarreia pós-desmame em leitões. Embora o ZnO ainda possa ser usado como aditivo na alimentação após essa data, só será autorizado à dose máxima de 150 ppm de zinco dietético total. Antes de abordarmos por que razão todos os suinicultores da UE precisam de estar preparados para produzir os seus suínos sem níveis farmacológicos de ZnO, é importante compreender por que razão aumentou drasticamente, e em todo o mundo, nos últimos anos, a utilização de elevados níveis de ZnO na alimentação dos suínos.

Onde tudo começou

No desmame, os leitões estão sujeitos a uma multiplicidade de fatores de stress durante um período muito curto de tempo que contribuem para gerar distúrbios no trato gastrointestinal e no sistema imunitário. Estes fatores podem ser:

1. Nutricionais: Mudança abrupta na dieta, do leite da mãe, ingerido nas primeiras semanas de vida, para uma formulação dietética seca, peletizada ou não, e predominantemente à base de vegetais.

2. Ambientais: Mudança para novas instalações com condições de habitabilidade distintas da maternidade.

3. Baseados na saúde: Perda de imunidade passiva procedente da porca.

4. Fisiológicas: Separação abrupta das mães, manuseamento, transporte e integração num ambiente com leitões desconhecidos de outras barrigas.

Porque os leitões estão sob stress, o período pós-desmame é tipicamente caracterizado por um baixo índice de crescimento (reduzida ingestão de alimentos) e pelo aumento da suscetibilidade à diarreia pós-desmame.

Tradicionalmente, os produtores de suínos confiavam nos promotores de crescimento antibióticos incorporados em rações pre-starter e starter para controlar as infeções patogénicas (principalmente causadas por E. coli  enterotoxigénico) e para melhorar o índice de crescimento dos leitões nas primeiras semanas após o desmame. Esta era uma prática comum, até que vários organismos governamentais proibiram a utilização de antibióticos como promotores do crescimento, nomeadamente, o Parlamento Europeu em 2003, devido à crescente preocupação com o aumento dos níveis de resistência antimicrobiana. A contínua propagação da resistência aos antibióticos tem consequências perigosas não só para a saúde animal, mas também para a saúde humana.

Na sequência desta proibição, os suinicultores tiveram de procurar alternativas para manter uma boa saúde intestinal dos leitões e para reduzir a queda de rendimento pós-desmame. A consequência foi o uso generalizado de elevados níveis de ZnO na alimentação dos leitões (2.000 ppm ou superior), tornando-se prática comum no setor. Estas demonstrou ser uma ferramenta eficaz e relativamente barata para prevenir e controlar a diarreia pós-desmame, com melhorias subsequentes no crescimento dos leitões, na ingestão de alimentos e na digestão. Embora ainda não esteja totalmente clarificado o modo de ação do ZnO no controlo da diarreia pós-desmame em leitões, acredita-se que está relacionado com uma melhoria significativa tanto na morfologia intestinal (ou seja, melhoria da estrutura e da função intestinal) como na digestão e absorção de nutrientes.

Porquê proibir o uso farmacológico do ZnO?

Embora existam vários benefícios decorrentes da utilização de ZnO na alimentação dos leitões (prevenir a diarreia pós-desmame, manter a saúde e o rendimento, etc.), relatórios recentes têm destacado o impacto ambiental do óxido de zinco e seu contributo para a propagação da resistência aos antibióticos. Por conseguinte, não é de estranhar que a legislação esteja a mudar e por essa razão a UE decidiu proibir a utilização de ZnO em níveis terapêuticos a partir de junho de 2022. No entanto, nem tudo são más notícias para a indústria suinícola europeia, uma vez que existem vários benefícios potenciais decorrentes da futura proibição do ZnO. Alguns destes benefícios são:

1. Redução da poluição ambiental

Como já foi referido, existem preocupações ambientais quanto à continuação da utilização de elevados níveis de ZnO. Isto deve-se principalmente ao facto de o zinco existente no estrume de suíno se acumular nos solos agricolas quando é aplicado como matéria fertilizante. Estes elevados níveis de zinco no solo e nas águas superficiais são considerados poluentes e um risco para a saúde e podem igualmente afetar a absorção de outros oligoelementos, como o ferro.

2. Prevenção da resistência antimicrobiana

Estudos recentes demonstraram o contributo do ZnO para o aumento da resistência das bactérias aos antibióticos, uma vez que níveis elevados de ZnO podem aumentar a proporção de E. coli multi-resistente aos fármacos no intestino dos leitões.

3. Evitar a toxicidade do zinco

O zinco é um metal pesado e, portanto, tóxico para muitos organismos vivos, incluindo os suínos. Há estudos que comprovam que a utilização prolongada de níveis farmacológicos de ZnO pode afetar negativamente a saúde e o rendimento dos leitões, como o comprova uma acentuada diminuição da ingestão da ração.

4. Prevenção de interações nutricionais

Os altos níveis de ZnO podem ter um efeito negativo na atividade da fitase (uma enzima que é incorporada na alimentação dos leitões para melhorar a digestão), impedindo a libertação do fósforo da fitase devido à formação de um complexo de zinco com fitato de fósforo. Pode deduzir-se que quando o ZnO é eliminado da alimentação dos leitões, haverá um efeito positivo na eficiência da fitase.

5. Evitar alterações na composição microbiana intestinal

A utilização de doses farmacológicas de ZnO pode igualmente provocar alterações na composição microbiana do intestino dos leitões durante o período pós-desmame, anulando o crescimento das bactérias benéficas, como os Lactobacilli. Tais alterações podem afetar negativamente o desenvolvimento e a saúde intestinal dos jovens leitões.

O que vai acontecer nos países produtores de suínos fora da UE?

Canadá: Até há pouco tempo, o ZnO era usado na alimentação dos leitões em doses de 2.500-5.000 ppm. Porém, o Canadá está agora em vias de impor restrições semelhantes às da UE, restringindo o nível de ZnO permitido na alimentação dos leitões a 350 ppm.

China: O uso de elevados níveis de ZnO também foi alvo de escrutínio na China e, consequentemente, este país reduziu drasticamente o nível de zinco autorizado nos alimentos para animais, tendo passado, em 2018, de 2.250 ppm para 1.600 ppm.

Estados Unidos da América e alguns países asiáticos: É muito provável que, a curto prazo, os EUA e alguns países asiáticos também implementem restrições à utilização de níveis farmacológicos de ZnO na alimentação dos leitões. Embora não existam atualmente restrições nestas regiões, é vital que os suinicultores evitem a utilização excessiva e comecem a procurar alternativas ao ZnO, de modo a estarem preparados quando a proibição entrar inevitavelmente em vigor.

Até há pouco tempo, o ZnO representava uma das estratégias nutricionais vitais para prevenir e controlar a diarreia em leitões jovens e a paragem de crescimento associada a esta fase. No entanto, a crescente preocupação com a poluição ambiental e o contributo para a propagação de resistência a antibióticos conduziram à proibição na UE do uso de níveis elevados de ZnO na alimentação dos leitões. A adoção de uma estratégia holística que englobe as melhores práticas de nutrição, gestão, biossegurança, saúde e bem-estar será fundamental para garantir que os suínos possam prosperar e sobreviver na era pós-ZnO.

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Este é o primeiro de uma série de 3 artigos.

*Referências disponíveis mediante solicitação

Autor:  Hazel  Rooney, Coordenadora Técnica Suínos, Alltech Irlanda

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