Como controlar os níveis de amoníaco em aviários

2021-05-01

Autor: Drª. Kayla Price

Uma das queixas mais comuns nos aviários, além das moscas, é o cheiro a estrume. A concentração de amoníaco nos aviários gera não só mau odor, como também pode ser prejudicial para as aves e para os trabalhadores. Perceber como se forma este gás e o impacto que pode ter nas aves e saber como controlar os níveis de amoníaco é útil para uma gestão adequada do aviário.

Como se forma o gás amoníaco?

O azoto é um componente da dieta alimentar das aves de capoeira, via proteínas ou outras fontes. Uma parte do azoto é usada pelas aves, sendo convertido em carne ou em ovos, mas a maior parte neste nutriente é excretada na urina ou nas fezes, sob a forma de ácido úrico (cerca de 80%), amoníaco (cerca de 10%) e ureia (cerca de 5%). Depois de excretados, o ácido úrico e a ureia são convertidos em amoníaco, através de desagregação microbiana e enzimática produzida pelas bactérias e enzimas presentes no estrume. O amoníaco é então libertado para o ar na forma de gás, podendo ser detetado pelas aves e pelos trabalhadores do aviário.

Fatores que influenciam a formação e libertação do amoníaco nos aviários

  • Tipo de cama
  • Atividade das aves
  • Densidade aves no aviário
  • Gestão do estrume
  • Frequência de remoção do estrume
  • Nível de ventilação

Fatores que influenciam a forma como as bactérias e enzimas do estrume convertem o azoto em amoníaco

  • Teor de azoto
  • Temperatura
  • Humidade
  • pH

Que impacto pode ter o amoníaco nas aves?

Os investigadores que estudam o impacto dos níveis de amoníaco na produção avícola chegam a conclusões diversas. Alguns grupos de investigação sugerem que 25 ppm de amoníaco é o máximo tolerável, enquanto outros grupos sugerem que expor as aves a 20 ppm por longos períodos de tempo pode levar ao enfraquecimento do sistema imunitário e causar efeitos adversos no aparelho respiratório. Outros estudos sugerem que quando as aves podem escolher entre ambientes com diferentes níveis de amoníaco, elas preferem os locais com níveis de amoníaco abaixo de 11 ppm.

O amoníaco é tóxico para os animais. Níveis elevados de amoníaco podem levar a alterações visíveis, tais como dificuldade respiratórias, irritação da traqueia, inflamação do saco aéreo, inflamação das membranas mucosas do olho ou uma combinação destes sintomas. Muitas outras alterações menos óbvias podem ocorrer após a exposição a níveis mais baixos de amoníaco. Alguns estudos concluíram que a exposição das aves a 20-25 ppm de amoníaco durante a sua vida útil no aviário pode resultar numa maior suscetibilidade a infeções virais ou bacterianas, diminuir a eficiência alimentar e causar danos nos tecidos. Estas alterações foram observadas em frangos expostos a níveis de amoníaco entre 20 a 30 ppm durante 16-28 dias. Estudos com perus concluíram que entre as aves com problemas de E. coli as que foram expostas a níveis de amoníaco entre 10 a 40 ppm tinham mais bactérias nos pulmões do que as aves que não foram expostas ao amoníaco. Em galinhas poedeiras, os estudos apontam para que a exposição dos animais ao amoníaco numa fase juvenil pode ter um efeito a longo prazo, afetando o seu desempenho mais tarde já na fase de galinhas poedeiras. Além disso, a exposição crónica a concentrações elevadas de amoníaco pode prejudicar a produção de ovos.

Em laboratório, os investigadores descobriram que a exposição ao amoníaco pode desencadear alterações no interior do organismo dos animais. Nas aves de capoeira, a exposição a nível elevado de amoníaco durante 20 dias diminuiu a área da superfície intestinal (possivelmente com impacto na absorção de nutrientes), diminuiu a resistência das aves ao stress oxidativo, alterou a capacidade de decomposição de nutrientes no intestino e afetou o sistema imunológico. A exposição a elevadas concentrações de amoníaco durante um curto período de tempo pode ter impacto nas aves, tal como a exposição a concentrações médias de amoníaco por períodos mais longos.

Efeitos nocivos da concentração de amoníaco em aves e humanos

5 ppm -Nível mínimo detetável.

6 ppm- Irritação dos olhos e do trato respiratório.

11 ppm- Redução do desempenho animal.

25 ppm- Exposição máxima permitida durante 1 hora.

35 ppm- Exposição máxima permitida durante por 10 minutes.

40 ppm- Cor de cabeça, náuseas e perda de apetite em humanos.

50 ppm- Redução drástica do desempenho e da saúde animal; aumento da suscetibilidade a pneumonias.

100 ppm- Espirros, salivação e irritação das membranas mucosas em animais.

300 ppm ou mais- Perigo imediato para a saúde e vida humana.

 

Como reduzir os níveis de amoníaco nos aviários?

Há várias estratégias para diminuir o amoníaco nos aviários. Estas estratégias podem ser utilizadas individualmente ou combinadas, ajudando a melhorar a qualidade do ar no aviário e o  potencial de desempenho das aves. Estas estratégias incluem ventilação e gestão, tanto do aviário como da cama/estrume das aves.

A ventilação funciona como fator de controlo da qualidade do ar, retirando o amoníaco e trazendo ar puro de volta ao interior do aviário. Este método não reduz nem inibe a formação de amoníaco, no entanto, a ventilação adequada durante todo o ano ajuda a reduzir os níveis deste gás e a manter as aves secas.

Uma boa gestão do aviário pode ajudar a diminuir a formação de amoníaco. Uma das regras base é evitar que a cama ou o estrume das aves estejam molhados, para isso deve-se manter os bebedouros em bom estado de conservação e reparar fugas nos sistemas de rega; por outro lado é fundamental escolher o tipo de cama mais adequado para o aviário; manter uma humidade relativa adequada à idade das aves; reduzir o potencial de condensação nas instalações e aquecer e ventilar convenientemente o aviário.

As estratégias de gestão da cama e do estrume podem subdividir-se em dois tipos:

  • Gestão da dieta das aves: A formação de amoníaco no estrume e a sua subsequente libertação como gás podem ser rastreadas e relacionadas com o aumento dos níveis de azoto no estrume. Os níveis de azoto fecal podem aumentar se as aves não absorvem e não decompõem adequadamente as proteínas que ingerem na ração. Isto pode acontecer caso a alimentação contenha demasiadas proteínas complexas, no caso de as aves estarem doentes ou caso o seu trato gastrointestinal não funcionar corretamente. Estas questões podem ser corrigidas ou prevenidas através do equilíbrio dos níveis de proteína e/ou aminoácidos na dieta e zelando pela saúde gastrointestinal das aves. 

Outro método para ajudar a prevenir as emissões de amoníaco derivado do azoto das fezes é a utilização de componentes como o extrato de Yucca schigidera, que desempenha um papel na ligação do amoníaco. De-Odorase®  é derivado de Yucca schigidera e tem sido demonstrado que reduz a ureia sanguínea e os iões de amónio sanguíneo, reduz a degradação excessiva do azoto no ceco e liga o amoníaco para que permaneça no estrume em vez de ser libertado como gás. Quando é usado na alimentação, em todo o ciclo de vida nas aves no aviário, pode controlar a libertação de amoníaco para o ar.

  • Gestão do estrume no aviário: Podem ser usados agentes acidificantes para baixar o pH da cama de aviário (abaixo do pH habitual 7,5-8,5), o que ajudará a desacelerar e reduzir a atividade dos microrganismos que decompõem os nutrientes no estrume libertando amoníaco. Outra estratégia pode ser a utilização de absorventes de odores e de humidade na cama ou no estrume. Estes absorventes, geralmente à base de argila, atuam desacelerando a atividade microbiana ou diminuindo o teor de humidade na cama. De-Odorase® também pode ser usado como spray aplicado no estrume, ajudando a controlar o amoníaco libertado e reduzindo o seu odor. Os inibidores de enzimas microbianas e de enzimas urease também podem ser usados para impedir a ação dos microrganismos e das enzimas no estrume que ajudam a libertar amoníaco.

No entanto, o sucesso destas estratégias pode ser posto em causa por vários fatores: acumulação de detritos na cama e acumulação de estrume; presença de humidade na cama e no estrume; consoante o tipo de aves presentes no aviário; temperatura do aviário; presença de doenças ou vários destes fatores combinados.

Conclusão

As emissões de amoníaco nos aviários, provenientes do estrume e do gás amoníaco, são um tema complexo na indústria avícola, mas combinando uma ventilação adequada, uma boa gestão do aviário e uma estratégia para reduzir a formação de amoníaco, este problema pode ser superado em qualquer estação do ano.

Este texto é um resumo de um artigo publicado na revista Canadian Poultry.

 

 

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